Quando começamos a planear o segundo filho, ainda não se adivinhava que o coronavirus ia chegar às nossas vidas da maneira que chegou! De repente estávamos todos em casa e comecei a sentir algumas cólicas e sensibilidade quando dava de mamar ao Diogo. Como estávamos a tentar engravidar de novo, pensei logo que poderia estar grávida. Fazendo as contas, decidimos ser melhor fazer um teste, e lá contactamos uma farmácia para nós trazer um ao domicílio. Esperamos pela manhã seguinte para fazer o teste, e logo que acordamos fomos os 3 para a casa de banho (o Diogo foi tomando banhoca), e exactamente como no teste do Diogo, em 5-10 segundos já estava uma linha muito vincada no positivo! A minha reacção foi muito diferente do que na primeira vez, o Tiago estava eufórico, e eu "como vamos ter um bebé no meio disto tudo?". Naquele momento em pleno março, ninguém sabia muito bem em que pé estávamos, todos os dias estávamos todos em casa colados às notícias, sem saber nada do futuro. Eu, no meio de isto tudo, estava super feliz, até porque era algo que queria muito, mas muito assustada com o facto de estar grávida no meio de tudo isto! Os primeiros tempos foram para mim muito difíceis, não conseguia viver a gravidez em pleno, só pensava e agora, como vai ser? Agora às 20 semanas já estou bem mais calma, também já tanto mudou. Fui falando com a minha médica por telefone até acharmos que era preciso ir lá à consulta. Quando as contas da última menstruação davam cerca de 7 semanas, lá fui eu, saí de casa pela primeira vez em tanto tempo, cheia de medo do que ia encontrar! A baixa estava deserta, nem parecia a mesma cidade, as poucas pessoas que se via na rua andavam cheias de medo, com pressa e sem parar, e tudo a fugir uns dos outros! Na autoestrada quase não havia tráfego, e eu lá fui, à primeira consulta e ecografia, sem sequer poder ir com o meu Tiago, e até hoje tem sido sempre assim, ele não pôde ir a nenhuma consulta, ecografia, etc, e claro que compreendo que tem de ser, mas também sinto que é um direito que ele tem que está a perder, e para mim também é importante ser acompanhada por ele, e viver a gravidez os dois como deve ser. Então lá fui, e vi o pequeno coração do nosso bebé a bater, e foi aí que assimilei, é mesmo real, estou grávida no meio de um pandemia, mas assim será e tudo vai correr bem! A partir dai já me senti um pouco mais confortável mas ainda com muito medo, e como não estávamos com ninguém pessoalmente sentimos que era melhor esperar antes de contar a novidade. Comecei a fazer as análises de rotina e senti mesmo o hospital deserto, toda a gente muito cuidadosa e de um momento para o outro, quando passado 15 dias fui fazer mais umas análises ao mesmo hospital, senti tudo tão diferente, cheio de gente, tudo descuidado, parecia que tudo tinha passado, e foi aí que voltei a ficar com medo! Tenho feito tudo sempre com muito cuidado, entretanto voltamos ao trabalho, e ambos estamos supercuidadosos, por nós, pelo nosso Diogo, pelo nosso bebé e por todos! Estar grávida no meio de tudo isto, tem me feito pensar. Tenho visto tanta coisa justificada por causa do vírus, gravidezes que são terminadas e partos provocados, para garantir testes negativos, pais que não podem estar presentes com a sua companheira naquele momento tão crucial que é o parto, exames e análises que são adiadas a tanta gente que precisa delas, doenças que não são detectadas a tempo! Parece que um vírus veio abrandar o nosso sistema de saúde, em tudo que não se relaciona com ele! Felizmente, até hoje, sinto que a minha gravidez a nível público, está a ser seguida como deveria ser seguida sem covid, claro que o centro de saúde está diferente, mas sinto o apoio deles e cuidado com todos os doentes como deve ser. Mas começo a pensar no parto, em pleno inverno, e tenho de me preparar para fazer valer os meus direitos! Felizmente tanto mudou, em relação ao início da pandemia, quando nem deixavam as mães amamentar à nascença em alguns locais, algo que é crucial para o sucesso da amamentação, mas não sei se no inverno algumas regras vão voltar, mas sinto que se todos lutarmos pelos nossos direitos, claro que dentro do razoável, porque o vírus não tira férias, conseguimos chegar lá. Estamos a viver tempos diferentes e por isso tudo deve ser vivido de maneira diferente, de maneira cautelosa e bem planeada!